quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Sim!

.'Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou.

"A hora da estrela", Clarice Lispector, Ed. Rocco. 2007. 

Na tarde da última segunda feira, 03 de agosto, recebi a boa notícia de que o projeto "Tecer Horizontes", proposto por mim ao edital "LAB-CULTURAL", promovido pelo BDMG Cultural, foi aprovado! Um importante "sim" que viabilizará minha ideia de promover um espaço de experimentação da escrita dramatúrgica, aberto a jovens residentes em Minas Gerais, com idades entre 15 e 19 anos. 

Desejo aprofundar minha pesquisa rumo à uma poética própria enquanto dramaturgo-pedagogo, motivado pelas seguintes questões: quais mundos, vozes, discursos e poéticas podem ser descobertos a partir do encontro de jovens com a escrita dramatúrgica? E ainda: quais as contribuições essa experiência poderá legar à pedagogia teatral?

Assim, pretendo promover dois encontros semanais ao longo de três meses, via videoconferência. Meu intuito é promover um espaço onde os jovens pratiquem, de maneira lúdica, a escrita de cenas e peças breves a partir de diferentes jogos e disparadores criativos. O compartilhamento das dramaturgias geradas nesses exercícios também fará parte da nossa rotina, com o objetivo de promover a troca de pontos de vistas, ideias e percepções no grupo. Como condutor, desejo criar enunciados e propostas de escrita afinados e/ou inspirados nos elementos da cultura e modos de ser e estar no mundo desses jovens. Por tanto, a pesquisa em torno dos aspectos revelados, tanto pelos textos escritos, quanto pelas conversas motivadas por eles, será fundamental nessa empreitada e também na escolha das dramaturgias e ideias teatrais de dramaturgas e dramaturgos, que serão apresentados ao grupo com o objetivo de enriquecer o repertório imaginativo desses jovens escrevedores

Além da minha, outras nove propostas de pesquisa foram contempladas por esse programa de incentivo à pesquisa artística, no campo das artes cênicas. Teremos nossos projetos orientados pela dramaturga, atriz e diretora Grace Passô.

Acompanho o trabalho da Grace desde 2008, ano no qual comecei a assistir as peças em cartaz no circuito belorizontino. Ainda é muito viva em mim a sensação de vê-la pela primeira vez em cena, no palco do Teatro Francisco Nunes, numa apresentação do espetáculo “Amores Surdos”, escrito e protagonizado por ela: quando a sessão acabou, eu ainda estava revirado pela história da família retratada pela peça e impactado com a força da atuação da Grace, no papel da “mãe”. Um dos momentos mais marcantes daquela noite foi vê-la na cena em que sua personagem impede um dos seus filhos de por em prática uma ideia de assassinato, quase no final da peça. Foi um frenesi! Falei por dias daquela cena, daquela atriz, daquela peça... Nos anos seguintes, tive a oportunidade de ver os outros trabalhos escritos, dirigidos e/ou atuados pela Grace. Em 2012, participei do núcleo de Dramaturgia do Galpão Cine Horto e, naquele ano, o projeto funcionava assim: quinzenalmente, um dramaturgo ou dramaturga conduzia os encontros do núcleo por um final de semana. No primeiro deles, a Grace esteve a frente dos trabalhos. Para a nossa turma ela compartilhou quais eram as ideias teatrais e inquietações a movia. Também praticamos a escrita de cenas-curtas a partir de um exercício proposto por ela que tinha como ponto de partida o conto “Casa Tomada”, do escritor argentino Júlio Cortázar. Semanas depois revisitei o material que comecei a desenvolver nesse exercício e dei continuidade à sua escrita. Desse movimento, nasceu “João e Maria”, peça que me proporcionou ser um dos premiados na terceira edição do concurso “Jovens Dramaturgos”, promovido pelo SESC, em 2013.

Corta para: 2020.

Ano pandêmico – pandemônio Brasil! Logo-logo contabilizo cinco meses de isolamento social. A notícia dessa aprovação foi um alento nesse ano mais sem eira, nem beira. Uma força para me manter conectado à criação teatral, mesmo que o encontro presencial com outras pessoas ainda nos seja impedido em decorrência da pandemia descontrolada, causada pelo Corona Vírus.

Pretendo, nos próximos dias, iniciar a divulgação desse espaço de experimentação. A ideia é formar um coletivo de 12 jovens que se interessem pela escrita. Praticaremos a criação de cenas curtas/peças breves, inspiradas nos elementos das culturas que esses participantes estiverem mergulhados.

Esse blog será um dos espaços onde esses textos que surgirem ficarão registrados.

Aqui também pretendo compartilhar as reflexões, inquietações, sacadas, descobertas e os disparadores de escrita (enunciados dos exercícios) que formos experimentando ao longo dos próximos quatro meses.

Sinto-me feliz e encorajado diante desse "sim". Tenho gestado essa proposta de prática da escrita dramatúrgica com jovens há tempos: desde que comecei a trabalhar com jovens no ensino médio, há três anos, penso que pode ser potente um espaço onde essas pessoas possam expressar, por meio da escrita teatral, suas dúvidas, sonhos, inquietações, pontos de vista, desejos e confabulações...

Tenho a oportunidade de transformar esse desejo em ação,

então,

“bora” habitar esse espaço e fazer valer.

Coragem!

 

 

 


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