Blog da oficina-experimento voltada para prática de invenção de escritas dramatúrgicas, conduzida pelo dramaturgo Raysner de Paula. Aqui, além dos relatos, registros e reflexões realizados ao longo do processo, compartilharemos também trechos das dramaturgias escritas pel_s participantes durante os encontros.
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
No último encontro, lemos "Agreste" uma peça que me lembrou muito a obra "Grande Sertão: Veredas". Deixo aqui um então, um trecho dessa obra que gosto muito.
"Aquele lugar, o ar. Primeiro, fiquei sabendo que gostava de
Diadorim – de amor mesmo amor, mal encoberto em amizade.
Me a mim, foi de repente, que aquilo se esclareceu: falei comigo.
Não tive assombro, não achei ruim, não me reprovei – na hora.
Melhor alembro.
…………
O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em
mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente –
“Diadorim, meu amor...” Como era que eu podia dizer aquilo?
………
E como é que o amor desponta.
…..
Coração cresce de todo lado. Coração vige feito
riacho colominhando por entre serras e varjas, matas e campinas.
Coração mistura amores. Tudo cabe.
………
E eu – como é que posso explicar ao senhor o poder de amor que eu
criei? Minha vida o diga. Se amor ?
... Diadorim tomou conta de mim.
………….
E de repente eu estava gostando dele, num descomum, gostando ainda mais do que antes, com meu coração nos pés, por pisável; e dele o tempo todo eu tinha gostado. Amor que amei – daí então acreditei.
……
Um Diadorim só para mim. Tudo tem seus
mistérios. Eu não sabia. Mas, com minha mente, eu abraçava
com meu corpo aquele Diadorim-que não era de verdade. Não
era?
………………
Diadorim deixou de ser nome, virou sentimento meu
……..
Aquilo me transformava, me fazia crescer dum modo, que doía e prazia. Aquela hora, eu pudesse morrer, não me importava.
……….
Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as
surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.
……..
Tudo turbulindo. Esperei o que vinha dele. De um aceso,
de mim eu sabia: o que compunha minha opinião era que eu, às
loucas, gostasse de Diadorim,
……
no fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de
empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em
Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijar, as muitas
demais vezes, sempre.
……
Abracei
Diadorim, como as asas de todos os pássaros
…….
Só se pode viver
perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a
gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um
descanso na loucura.
…….
amor é a gente querendo achar o que é da gente"
fim (?)
Embarquei nessa viagem com o coração aberto a me reaproximar do teatro. Sentia falta do calor dos textos, de ser abraçado pelas falas e de entrar em cena. De certo que o virtual não traz a tona tantas possibilidades, mas me trouxe uma nova camada de mim mesmo. Entender minha escrita e descobrir os caminhos que me trazem para cima e por onde quero andar, foi um renascimento.
Na maturidade, encontrei detalhes que não conhecia e que certamente constituirão quem serei daqui em diante. Fui mudado por essa oficina. Jamais esquecerei o que senti e como a escrita realmente salva e reaproxima.
A qualidade de condução, técnica e humana, de Raysner foram surreais. Não o quero largar mais. Sua sabedoria e as colocações na horas certas e tão bem aplicadas, indicam muito mais que um orientador, mas um amigo que sabe ouvir e falar e principalmente, acertar no que diz. Raysner, obrigado!
Deixo meus agradecimentos a tudo e a todxs. Essa proposta foi magnífica e potente. A arte salva, a arte forma e impulsiona. A arte é necessária. Ocupar o virtual com essa oficina, certamente, foi o meu respiro de alívio nesse momento de reclusão e caos. Novamente, obrigado!
Entrego ao futuro os abraços que não foram dados e as lágrimas e sorrisos da distância, na esperança do encontro na nova realidade que chega em breve. A companhia de todxs foi fundamental e primordial para a mudança que aconteceu por aqui.
Deixo um grande abraço e uma chama de esperança pelo o que está por vim. Digo a todos o que digo a mim desde o inicio: não desistam.
Um forte abraço.
Raul.
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