(A Laura observa a
paisagem enquanto o sol se põe. O coração, animado e rapidamente, diz
aos olhos.)
Coração: Olha, olha! Veja que liiindo! É tão bom! É tão bom viver! Veja lá!
Veja cá! Taantaa
coisa!
Olhos: Calma! Não consigo ver o mundo inteiro de uma vez só, cê sabe né?
Coração: Olha, saber eu sei... Mas quem disse que eu aceito haha.
Olhos: Pois devia. Eu não vou conseguir ver tudo antes de ver a morte chegar, é
fato.
(Coração diz primeiramente com o tom decepcionado e depois esperançoso)
Coração: Ah, mas... e se você correr??
Olhos: Não adianta, não sou Perna nem Pé. Sou devagar quase parando. E a gente
já tentou,
não se lembra?
Coração: Isso de lembrar é trabalho do Cérebro, não meu.
Olhos: Ora, mas então você não se lembra de nada?
Coração: Me lembro sim! É claro.
Olhos: Do que?
(coração suspira)
Coração: De que amar é bom e a vida é linda...
(olhos reviram)
(Alguém chega perto da Laura. Olhos sussurra)
Olhos: Você está vendo isso?
Coração: Ai papai, apaixonei...
Olhos: Mas que lindo par de olhos. (Olhos se dirige ao par de olhos da outra
pessoa) Oi chuchu,
vem sempre aqui?
(Extensos instantes)
Coração: Olhos, ei! Olhos!
(Olhos sai do transe)
Olhos: Oi! Oi! Que foi?
Coração: Sabe aquele papo de se apressar?...
Olhos: O que tem?
Coração: Esquece, tá? Vai devagarinho mesmo, quaaase parando... Nem precisa ver
o mundo
inteiro mais não... Mas foca BEM nesses olhos castanhos aí, fechou?
Texto escrito pela Laura.
CÉREBRO
e ÚTERO
ÚTERO:
Hum. Hum.
CÉREBRO:
Que?
ÚTERO:
Hum?
CÉREBRO:
É o que?
ÚTERO:
Hum hum?
CÉREBRO:
Não entendo você. Na verdade, nunca entendi.
ÚTERO:
Hum. Hum.
CÉREBRO:
Na verdade, você não deve me entender também. Mas ao contrário de você eu
consigo notar esse desencontro. Por exemplo, não sei se os animais percebem que
não os entendemos.
ÚTERO:
Hum hum hum.
CÉREBRO:
Você poderia estar dizendo milhões de coisas pra mim. Mas o que eu entendo?
Nada.
ÚTERO:
Hum?
CÉREBRO:
Nada.
ÚTERO:
Hum. Hum.
CÉREBRO:
Além disso você é muito pouco comunicativo. Só escuto você quando está se
comprimindo.
ÚTERO:
Hum hum? Hum hum hum hum.
CÉREBRO:
Você sabe que hora... Eu não preciso falar... Você entende melhor que eu.
ÚTERO:
Hum hum?
CÉREBRO:
Sim, sim. Estou admitindo. Nem sempre cumpro minha função. Você não sabe o quão
difícil é entender tudo. Às vezes não entendo nada.
ÚTERO:
Hum.
CÉREBRO:
Nada.
Texto escrito pela Sofia Rosi.
Vesícula e fígado
Vesícula: (cabisbaixa) Tenho uma má
notícia para te dar.
Fígado: Má? (em tom irrelutante) Não, não
quero.
Vesícula: Não?
Fígado: Não gosto de más notícias.
Silêncio.
Fígado: (irritado) Ora, vamos! Fale!
Vesícula: (confusa) Você tinha dito que
não queria!
Fígado: Você sabe que não me aguento de
curiosidade.
Vesícula: Bem... Vou embora.
Fígado: Embora? Que bobagem, embora pra
onde?
Vesícula: Vão me remover. Eu adoeci.
Silêncio por um longo momento. Então,
Fígado explode em risadas.
Fígado: Como você é boba!
Vesícula: Estou falando a verdade.
Fígado: (hesitante) Adoeceu?
Vesícula: Sim. A má alimentação me deixou
dessa forma.
Fígado: (incrédulo e revoltado) A má
alimentação não é culpa sua, e você será removida? Como isso é justo?
Silêncio enquanto a Vesícula reflete.
Vesícula: Bem, justo talvez não seja. É
realmente triste que a ação do outro tenha efeitos negativos em alguém
inocente, mas somos um todo. É assim que as coisas são.
Fígado: E o que acontece se você ficar?
Vesícula: Ora, meu amigo. Estamos juntos
há tantos anos, praticamente colados, vivendo e trabalhando juntos. O que você
acha que aconteceria?
Fígado: Bem, eu não sei.
Vesícula: Eu adoeceria você.
Silêncio longo, pesaroso, saudoso.
Fígado: Isso não é justo. Ficarei
sozinho.
Vesícula: (otimista) Mas saudável.
Fígado: Saudável, mas não feliz. Qual é o
ponto?
Texto escrito pela Amanda Costa
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